- PEDRO LUSO DE CARVALHO
NELSON RODRIGUES (1912-1980)
jornalista, cronista, ficcionista – romancista e contista – e dramaturgo (o
mais importante dramaturgo do século XX), legou-nos uma obra de inestimável
valor literário. Nas suas obras ataca o mundo pequeno-burguês com ferocidade,
embora ele próprio tivesse sido criado no ambiente da pequena burguesia. Suas
principais peças são: Vestido de noiva (1943), Álbum de família (1945),
A falecida (1953), Beijo no asfalto (1960), Toda nudez será
castigada (1965).
Segue o conto Trama,
de Nelson Rodrigues (In A vida como ela é.../Nelson Rodrigues –
Rio de Janeiro: Agir, 2006, p. 345):
[ESPAÇO DO CONTO]
TRAMA
( Nelson Rodrigues )
Foi mais ou menos por
essa época, que o médico da família anunciou: Moema não poderia ter filhos,
nunca. Foi uma grande tristeza, porque mulher e marido adoravam crianças.
Passa-se o tempo. Um dia, entra Abgail no quarto de Moema. Pela primeira vez,
revela a obsessão antiga: "Tu me tiraste o homem que eu amava e
eu..." Pausa. Diz, sem desfitá-la:
– Vou ter um filho. Sabes
de quem?
Moema, que estava
sentada, ergueu-se. Pousou a mão no ombro da outra, num cuidado instintivo:
"Senta, senta!" A outra obedeceu, atônita. Moema continuou, já
chorando:
– Deus abençoe o filho do
homem que eu amo!
Durante largo tempo,
choraram em silêncio, unidas e amigas como duas irmãs, duas gêmeas.
* * *