11 de jan. de 2012

[Filosofia] CARLOS FUENTES - Ciúmes

Carlos Fuentes

              por Pedro Luso de Carvalho


        CARLOS FUENTES (Carlos Fuentes Macías) nasceu na cidade do Panamá, Panamá, a 11 de novembro de 1928. Romancista e crítico mexicano, tornou-se conhecido pelo experimentalismo narrativo com estudos sobre a História do México e da América Latina.

        Nos seus romances, Carlos Fuentes busca um enfoque do que seja o México, tanto sob o prisma político e social, como psicológico e mítico. Sua experiência está assentada tanto no desenvolvimento de seus romances como na função de diplomata e de embaixador da cultura latino americana. 

        Fuentes foi defensor de Fidel Castro e dos sandinistas e sério crítico dos Estados Unidos, tanto que, por três vezes, foi proibido de entrar nesse país. Mas, em que pese essas circuntâncias, em 1987 tornou-se professor titular de estudos latino-americanos na conceituada Universidade de Harvard.

        Escreveu os romances  A morte de Artemio Cruz (1962), Cambio de piel (1967), Terra nostra (1975), Gringo velho (1985), entre outros, igualmente importantes.

        O texto que segue, Ciúmes, de Carlos Fuentes, compõe o seu livro Este é meu credo / Carlos Fuentes. Tradução de Ebréia de Castro Alves. - Rio de Janeiro: Rocco, 2006, p. 48-49. 


                                     [ESPAÇO DA FILOSOFIA]

                                              C I Ú M E S

                                                                                  


        O ciúme mata o amor, mas não o desejo. Esse é o verdadeiro castigo da traição atraiçoada. Odiamos a mulher que rompeu o pacto de amor, mas continuamos a desejá-la porque sua traição foi a prova de sua própria paixão. O ciúme depende de uma relação amorosa não terminar em indiferênça. A amante que nos abandona deve ter a inteligência de insultar-nos, humilhar-nos, agredir-nos selvagemente, para que não a esqueçamos com resignação. Para continuarmos desejando-a, com este nome pervertido da vontade erótica: o ciúme.

        Norman Mailer disse que o ciúme é uma galeria de quadros na qual o ciumento é o curador do museu. Acho que o ciúme é como uma vida dentro de nossa vida. Podemos tomar um avião, voltar à nossa cidade ou a uma cidade estranha, telefonar aos amigos e, às vezes, até perdoar os inimigos, mas o tempo todo estamos vivendo outra vida, separada embora dentro de nós, com suas próprias leis. Essa vida dentro de nós é o ciúme, que se manifesta fisicamente. Como diz a expressão popular mexicana, esse sentimento nos dá um nó na barriga. É uma certa selvagem, amarga e biliosa que se agita, sobe e desce do coração à barriga e da barriga ao sexo incapacitado, inútil, transformado em ferido de guerra. Dá vontade de pendurar uma medalha no pobre pênis. E depois, uma coroa fúnebre. Mas a maré do ciúme nada celebra nem se detém por muito tempo em parte alguma do corpo. Ela o percorre como um líquido venenoso e seu objetivo não é destruí-lo, e sim assediá-lo e expremê-lo, para que seus piores sumos subam à cabeça, fixem-se verdes e duros como escamas de serpente em nossa língua, em nosso hálito, em nosso olhar...

        O ciúme nos faz sentir-nos expulsos da vida. Como se um ser amado houvesse morrido, com a diferênça de que podemos maifestar o sofrimento da morte. Por outro lado, é preciso esconder o sofrimento obscuro e envenenado do ciúme, para evitar a compaixão ou o ridículo. O ciúme exibido nos expõe ao riso alheio. É como voltar à adolescência, essa idade infausta na qual tudo que fazemos publicamente – andar, falar, olhar – pode ser objeto do riso do outro. A adolescência e o ciúme nos separam da vida e nos impedem de vivê-la.


                                                                            (Carlos Fuentes)





REFERÊNCIAS:
HOGAN, Colman. Grandes escritores. Editor geral Julian Patrick. Tradução de Lívia Almeida e Pedro Jorgesen Junior. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.


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