19 de set. de 2013

JOHN CHEEVER - Pulitzer e Outros Prêmios



 –  PEDRO LUSO DE CARVALHO


Não faz muito tempo, encontrei na Feira do Livro de Porto Alegre um livro do escritor norte-americano John Cheever, nascido em Quincy, Massachusetts, 1912, com o título de Até Parece o Paraíso, editado pela Companhia Das Letras.

Sobre essa obra o escritor John Upidike escreveu para The New Yorker: “Encantadora comédia suburbana, tão direta que chega a nos desarmar. Cheever exalta a sublime poesia da vida. Na criação de imagens e acontecimentos é um escritor sem igual na ficção americana contemporânea”.

Diante da qualidade do seu texto, procurei outras obras do escritor; encontrei o romance A Crônica dos Wapshot, que a crítica estadunidense considerou um dos cem melhores romances da língua inglesa; com ele John Cheever ganhou o importante prêmio National Book Award de 1958. Mais três importantes prêmios foram conquistados por John Cheever: em 1978 o Prêmio Pulitzer e Medalha Edward MacDowell; em 1981 a National Medal for Literature.

Embora muito conhecido pelos norte-americanos pela qualidade de sua obra, John Cheever era até pouco tempo desconhecido no Brasil. Por ocasião de sua morte, ocorrida em 1982 na localidade de Ossininng, Nova York, a Folha de S. Paulo publicou apenas um pequeno texto de Paulo Francis sobre o escritor.

Quando o romance A Crônica dos Wapshot foi lançado nos Estados Unidos, em 1957, os críticos literários receberam a obra com grande surpresa pelo fato de ter sido esse o primeiro romance do escritor. Essa obra foi publicada no Brasil pela Editora ARX em 2002.

Na data do lançamento desse romance, John Cheever estava com 45 anos de idade, ao passo que há muitos anos dedicava-se a escrita de contos; como contista, era comparado por muitos críticos de literatura norte-americanos a Anton Tchekhov – este, um dos mais importantes contistas de todos os tempos.

Em A Crônica dos Wapshot, Cheever conta a história de uma família de classe média da Nova Inglaterra na qual estão presentes personagens que a ela dão força e consistência, como é o caso Leander Wapshot, homem tranquilo absorvido pelo trabalho em seu velho barco e oprimido pela esposa dominadora, Mrs Wapshot, e por outra mulher, Honora, sua prima excêntrica.

Os dois filhos do casal Wapshot, Moses e Coverly, também são personagens importantes; eles trocam a pequena cidade em que nasceram por Washington, para onde vão à busca de trabalho. Com os acontecimentos que se intercalam entre Washington e St. Botolphs a narrativa ganha novas nuances. Melhor será mostrar um trecho de A Crônica dos Wapshot:

“Que coisa frágil é o homem. A despeito dos bagos e da bazófia, um simples sussurro é capaz é de transformar sua alma em cinzas. O gosto de sal numa casca de uva, o cheiro do mar, o calor do sol de primavera, frutos amargos e doces, um grão de areia nos dentes – tudo isso que entendia por vida lhe estava sendo tirado. Onde estavam os crepúsculos serenos de sua velhice? Arrancaria os próprios olhos. Ao ver o brilho de vela em seu navio – ele o trouxera de volta ao porto em meio a ventanias e tempestades – sentiu-se espectral e desvirilizado. Foi à gaveta da cômoda e pegou, debaixo da rosa desidratada e da trança de cabelo, a pistola carregada. Aproximou-se da janela. Os fogos do dia se extinguiam como uma conflagração numa cidade industrial, e acima da cúpula do celeiro viu a estrela Vésper, doce e rotunda feito lágrima humana. Disparou a pistola pela janela e caiu no chão”.

      
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