– PEDRO
LUSO DE CARVALHO
ROBERTO
GOMES, escritor e filósofo, nasceu em Blumenau, SC, em 1944. Mudou-se para
Curitiba onde se graduou em Filosofia. Foi professor universitário. É editor e
autor de doze livros, entre eles um livro de filosofia, Crítica da Razão Tupiniquim. Seus livros de literatura infantil são
O menino que descobriu o sol e Aristeu e sua aldeia. Escreveu os
romances Alegres memórias de um cadáver,
Os dias do demônio e Todas as casas; este e o livro de
crônica Alma de bicho são os mais
recentes. Destaque-se ainda a coletânea de contos Sabrina de trotoar e tacape e Exercício
de solidão, este publicado em 1998 pela editora Record.
O livro Exercício de solidão será o objeto de
nossa conversa neste espaço, e para isso transcreveremos o brilhante texto de
sua apresentação de autoria de André Seffrin, a quem pedimos permissão para
essa transcrição:
Em Exercício de solidão bate as asas o
grande pássaro da inquietude, do maravilhamento, da denúncia, do sonho e,
principalmente da solidão e da melancolia. São contos que nos dizem dos
encontros e desencontros desta festa que é viver. Do irônico Aos cuidados do seu Jordão ao
melancólico e tragicômico Momentos de
Glória, do estranho e perturbador A
velha ao triste e machucante Danilo avança em diagonal – de página a página
o leitor é conquistado pela arte de um contador de histórias, esta presença
cada vez mais rara em literatura. Apesar de Roberto não ter dó nem piedade de
seus personagens, pobre gente condenada às aflições e misérias da carne e do
espírito, não podemos ignorar o humanista que ele é, escritor tocado antes de
tudo pela condição humana. Se existe qualquer coisa de feroz na maneira com que
vasculha e brinca com o destino destes seres em busca de amparo e liberdade, há
também o afago, porque é com carinho que denuncia os reveses e as injustiças do
mundo.
Vale destacar a sua
multiplicidade técnica e, sobretudo, a maestria com que certos contos saltam de
uma aparente facilidade para o plano extraordinário da arte literária mais
sofisticada. E são vários Robertos num só – o que perturba, o que se apieda e o
impiedoso, o debochado e o encantado, o onírico, o terno, o que dá asas à
ironia e ao humor. São estados de espírito que marcam cada conto de maneira
especial e que atravessam todo o livro subliminarmente. O seu humor é o de uma
civilização que se aproxima do fim, e tem os mesmos traços daquele humor
apontado por Vianna Moog em Heróis da decadência, que vem de Petrônio de
Satyricon, passa por Cervantes e chega ao nosso Machado.
Sim, Roberto é um
realista. Mais que isso, é um realista Machadiano. Machado de Assis inaugurou o
que podemos chamar, é claro que numa classificação apenas operacional, de
realismo simbólico contemporâneo. Esse realismo atravessa este século numa
multiplicidade de vozes. Cyro dos Anjos, Fernando Sabino, Dalton Trevisan, José
J. Veiga, Carlos Heitor Cony, Flávio Moreira da Costa e Cunha de Leiradella são
alguns dos autores que percorrem algumas veredas abertas pelo criador de O alienista. Nessa família espiritual
deve figurar agora o de Roberto Gomes, escritor que enfrentou durante anos o
confinamento de se ver publicado em editoras de província, distante das
livrarias e do público. Autor de um romance, Os dias do demônio que a crítica destacou como um dos melhores da
atualidade, publicou o seu primeiro livro de contos em 1981, Sabrina de trotoar e de tacape.
Dedicou-se mais ao romance e à literatura infantil, ao ensaio e à crônica. Exercício de solidão é o retorno do
contista. Um outro contista desta terra do conto que se chama Curitiba.
‘Curitiba é um exercício de solidão’, diz um de seus personagens. É. Com
certeza.
Júlia
é o novo romance de Roberto Gomes; o livro foi editado em Belo Horizonte, MG,
pela Editora Leitura, em 200o8. Antes, o escritor havia lançado Alma de bicho, livro de crônicas, 2000,
e Todas as casas, romance, 2004,
ambos publicados por Criar Edições.
* * *