22 de jun. de 2010

CONSELHOS / François Mauriac




por Pedro Luso de Carvalho


Imagino que boa parte de leitores tenha pensado, em determinada época de sua vida, em tornar-se escritor. Já ouvi, de alguns deles, que haviam desistido da idéia por sentirem o peso do talento de escritores como Machado de Assis, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Guimarães Rosa, entre outros. Nesses casos, o equívoco desses candidatos a escritor deveu-se ao fato de não terem começado a contar a história, que pensavam escrever (romance novela ou conto); esperar a consagração com o seu primeiro livro, seria demasiada pretensão do iniciante; não quero dizer que tal fenômeno nunca tenha ocorrido.


Escrevi para este blog, dois artigos sobre esse tema, isto é, sobre o jovem que se inicia na arte de escrever. No primeiro, falei sobre os conselhos que Mário de Andrade, na época escritor consagrado, dava ao então jovem Fernando Sabino, escritor iniciante. Na correspondência, que mantiveram até a morte de Mário, este, disse a Sabino, que ele deveria ir escrevendo e se aperfeiçoando. E, fazia a advertência de que o trabalho é árduo e sem brilho; e, depois, prognosticava que ele iria progredindo aos poucos, e que, se agüentasse o tranco, outros escritores perceberiam nele, um grande escritor.


No segundo artigo que escrevi para o blog, falei sobre o livro de ensaios A arte de escrever, de Ezra Pound, e transcrevi parte do capítulo no qual o poeta e crítico literário norte-americano fala sobre a linguagem, dirigindo-se especialmente aos jovens escritores. Pound ensina, nessa passagem, como se deve tratar a prosa: evitar o uso de palavras supérfluas e de adjetivos que nada revelam; e, ainda, não usar expressões como dim lands of peace (brumosas terras de paz), que se prestam apenas para obscurecer a imagem e misturar o abstrato com o concreto.


Outro texto, que me parece ser útil aos escritores iniciantes é o de François Mauriac, publicado pela Paris Review, em 1953, que resultou de uma entrevista concedida a Jean le Marchand: “Minha opinião não mudou. Creio que meus confrades romancistas mais jovens se acham grandemente preocupados com a técnica. Parecem pensar que um bom romance deve seguir certas normas impostas de fora. Na verdade, porém, tal preocupação os tolhe e embaraça em sua criação. O grande romancista não depende de ninguém, exceto de si próprio. Proust não se assemelhava a nenhum de seus antecessores, e não teve, não poderia ter, quaisquer sucessores. O grande romancista quebra o seu molde; só ele pode usá-lo. Balzac criou o romance balzaquiano; seu estilo se adaptava apenas a Balzac”.


Mauriac, conclui a resposta, que dá à primeira pergunta do seu entrevistador: “Há um laço estreito entre a originalidade de um romancista em geral e a qualidade pessoal de seu estilo. Um estilo emprestado é um mau estilo. Romancistas americanos, de Faulkner a Hemingway, inventaram um estilo para imprimir o que queriam dizer – e é um estilo que não pode ser transferido a seus adeptos”.


Como essa conversa sobre a nobre arte da literatura é longa, fico por aqui. Segue uma pequena nota biográfica desse escritor: François Mauriac, nasceu em Bordéus, na França, em 11 de outubro de 1885. Frequentou as Universidade de Bordéus e a Universidade de Paris, por algum tempo. Em 1909, publicou um livro de versos. No período de 1914 a 1969, escreveu dez romances, entre eles, Le Baiser aux lépreux (O Beijo no Leproso), Le Désert de l'amour (Grande prêmio de romance da Academia francesa) Le Nœud de vipères (O ninho de víboras), Le Mystère Frontenac, La Fin de la nuit, etc., obras que lhe deram a reputação de ser o principal romancista católico da França. Escreveu quatro peças teatrais, muitos livros de contos, crítica literária e ensaios. Também escreveu a biografia de Racine e a vida de Jesus. Foi laureado com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1952. Nessa época, iniciou a publicação de seus Diários (foram publicados 1985). François Mauriac faleceu em, Paris, em 1 de setembro de 1970, com 85 anos de idade.




REFERÊNCIAS:
ANDRADE, Mário de. Cartas a um jovem escritor. Remetente: Mário de Andrade. Destinatário: Fernando Sabino. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1993.
POUND, Ezra. Arte da poesia, ensaios. Trad. de Heloysa de Lima Dantas e Paulo Paz. São Paulo: Cultrix, 1976.
MAURIAC, Francois. Escritores em ação. Tradução de Brenno Silveira. 2ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1982.
MAUROIS, André. De Proust a Camus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1965.