[ESPAÇO DA CRÔNICA]
SIGA OS MEUS CONSELHOS!
[PEDRO LUSO DE CARVALHO]
Todos nós conhecemos uma
ou mais pessoas, que estão sempre prontas a dar-nos conselhos, embora não
tenhamos a intenção de recebê-los; para que comecem as sessões de
aconselhamento, basta um simples comentário sobre este ou aquele assunto, feito
por quem não está preparado para defender-se do inconveniente assédio; essa
situação é agravada pelo fato de que essas pessoas acreditam que ouviremos
atentamente as suas recomendações, e que as cumpriremos, o que certamente não
vai ocorrer.
À primeira vista, o
incômodo que causam esses conselheiros compulsivos, pode parecer de pouca
importância, e que com paciência poderemos ouvir tudo o que têm a dizer, e que
logo tudo passará; mas, infelizmente, isso não ocorrerá; somente param de falar
depois de terem dito tudo o que, para eles, deve ser dito, ‘para o nosso bem’;
damo-nos conta, no entanto, a certa altura da ‘conversa’, que nossa paciência
sumiu, e que a ansiedade passou a ser o nosso sentimento predominante; pior
ainda: sentimo-nos desesperados por desconhecermos um meio eficaz para
administrar essa situação, e, então, somos tomados de incontrolável fúria, que
só não transparecerá com esforço sobre-humano, se tivermos força para isso.
Depois de tantos
aborrecimentos, de noites insones, do uso de calmantes para amenizar a fúria da
qual fomos acometidos, quando estávamos na frente de um deles, que insistia que
ficássemos atentos às suas opiniões, agarrando-nos pelo colarinho para evitar
nossa distração, e dizendo que gosta de falar olhando nos olhos de quem o ouve,
a alternativa que temos é a adoção de medidas preventivas contra esse
abominável assédio, como, por exemplo, colocar os seus nomes num pequeno
caderno, que fique ao nosso alcance para que possamos identificá-los; o passo
seguinte é a fuga do algoz, que está à nossa espreita qual uma serpente pronta
para o bote.
Essa medida preventiva,
contra a ação desses aconselhadores, não pode ficar restrita ao caderno no qual
constam os seus nomes, já que outros tantos, que ainda não conhecemos, andam
por aí, sôfregos, à procura de alguém para dar a sua ‘sábia’ orientação de
vida, para dizer o que devemos fazer, nesta ou naquela situação; e, pobre de
nós, se tentarmos convencê-los que devem deixar que cada um resolva os seus
problemas, nos limites de suas possibilidades: premidos pela incontrolável
compulsão de aconselhar, doença que pensam tratar-se de qualidade de caráter,
dão início a uma interminável explicação sobre os motivos que os levam a ter
esse comportamento, em relação às pessoas que o cercam, concluindo que devemos
saber ouvir os ‘bons conselhos’, sem falar no diagnóstico, que poderão fazer
sobre nossa saúde mental.
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