6 de jun. de 2013

[Poesia] EZRA POUND – Os Cantos & Influências



  
-  PEDRO LUSO DE CARVALHO 


Este é o segundo texto que escrevo sobre Ezra Pound, poeta, músico e crítico literário; no primeiro, fiz um comentário sobre o seu livro A Arte da Poesia, editado pela Cultrix em 1976. Neste artigo, abordarei alguns aspectos da vida do poeta e farei a transcrição de um trecho da entrevista publicada inicialmente pela The Paris Review, em 1957, e depois editada em forma de livro (Writers at Work), em 1958 e 1963, pela The Vikink Press, Inc., Nova Iorque.

Alguns dados sobre a vida de Ezra Pound: nasceu em 30 de outubro de 1885, em Hailey (Idaho), EUA. Foi educado na Universidade de Pensilvânia e no Hamilton College. O seu primeiro livro foi publicado em 1908, na cidade de Veneza, Itália. Dono de uma vasta obra publicou cerca de 90 volumes de poesia, crítica e traduções de importantes poetas.

Ezra Pound viveu muitos anos na Europa, primeiramente em Londres, na década de 1920 em Paris, depois na Itália, onde teria aderido ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, adesão que foi por ele negada. O fato é que proferia palestra pelo rádio denunciando a participação dos Aliados contra os países que integravam o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Preso pelos norte-americanos em 1945, foi levado para Pisa, onde ficava o seu Centro de Adestramento Militar. Aí teve um tratamento extremamente rigoroso: foi jogado numa jaula improvisada com tiras de metal, onde dormia sob uma lâmpada continuamente acesa, e sobre cobertores colocados sobre o concreto.

Em decorrência desse tratamento cruel, na terceira semana subsequente à sua prisão Pound sofreu um colapso nervoso, que o deixou com amnésia parcial, além de outra sequela, a claustrofobia. Mesmo assim foi mantido na prisão por seis meses, sem qualquer contato com outras pessoas, o que agravou mais ainda sua saúde, já debilitada pelos frequentes ataques de histeria e de terror. Daí foi levado para Washington DC, onde ficou internado durante 13 anos, no Hospital Saint Elizabeth, por ter sido considerado portador de demência. Em 1958, os Estados Unidos retirou a acusação de traição. Nesse ano, retornou para a Itália, onde passaria a viver com sua filha.

Na poesia, Erza Pound destacou-se com Os Cantos, de inspiração erudita e repleta de símbolos. Essa obra foi iniciada em 1917, e a sua última parte, intitulada Thrones, somente foi publicada em 1959; trabalhou em sua obra até o ano de sua morte. Pound publicou também Personae, livro com seus poemas mais curtos, em 1926, que foi reeditado em 1950, com a inclusão de outros poemas; e, em 1962, foi publicada uma tradução de Love Poems of Ancient Egypt; em 1963, a antologia From Confucius to Cumings, editada por Marcella Spann.

 A influência de Ezra Pound e do seu projeto de renovação da linguagem poética fez-se sentir em Joyce, Yeats, William Carlos Williams e particularmente em T. S. Eliot, que submeteu o manuscrito da sua obra The Waste Land à apreciação de Pound antes de publicá-lo em 1922. As correções feitas por Pound mereceram-lhe a dedicatória de Eliot: "For Ezra Pound, il miglior fabbro" (A Ezra Pound, o melhor artífice), como consta na Wikipédia. Segue, pois, um trecho da entrevista que Erza Pound concedeu a Donald Hall, da The Paris Review:

Entrevistador – Um ponto de ligação entre a literatura e a política, que o senhor estabelece em seus escritos, interessa-me particularmente. Em A. B. C. of Reading diz o senhor que os bons escritores são aqueles que mantêm eficiente a linguagem, e que essa é a sua função. O senhor desassocia essa função do partido político. Pode um homem pertencente ao partido errado usar eficientemente a linguagem?

POUND – Pode. Aí é que está toda a complicação! Uma arma é igualmente boa, não importa quem a usa.

Entrevistador – Pode um instrumento ordeiro ser usado para criar desordem? Suponhamos que uma boa linguagem seja usada para fomentar um mau governo? Acaso um mau governo não torna má a linguagem?

POUND – Sim, mas a má linguagem está destinada a fazer, ademais, um mau governo, enquanto a boa linguagem não está destinada a fazer um mau governo. Isso, também, é puro Confúcio: se as ordens não forem claras, não podem ser executadas. As leis de Lloyd George eram tal mixórdia, que os advogados jamais sabiam o que significavam. E Telleyrand proclamou que os políticos mudavam o sentido das palavras entre uma e outra conferência. Os meios de comunicação se rompem, e é disso que estamos sofrendo hoje em dia. Estamos suportando o esforço de se trabalhar sobre o subconsciente sem que apelemos para a razão. Repetem, como música, algumas vezes, uma denominação qualquer, e, depois, a música sem a denominação, para que a música no-la dê. Penso no assalto. Sofremos do uso da linguagem a ocultar o pensamento e a impedir todas as respostas diretas e vitais. Há o uso da linguagem dialética, de propaganda, destinada simplesmente a ocultar e a iludir.

A entrevista feita pela Paris Review com Ezra Pound é extensa, apenas fizemos a transcrição de um fragmento dela, para que se possa ter uma noção, por mínima que seja, do que Pound e sua obra representam para a poesia e para a literatura universal.

Erza Pound de volta a Itália viveu a maior parte do tempo no Tirol, com sua filha, genro e netos. Por ocasião dessa entrevista, realizada em Roma, Pound encontrava-se no apartamento de Ugo Dadone, seu velho amigo. Sobre esse momento, diz o entrevistador: “Durante as horas da entrevista, que durou três dias, ele falou cansadamente, e as perguntas, às vezes, o deixavam exausto. Pela manhã, quando o entrevistador voltava, Mr. Pound mostrava-se ansioso por rever as falhas da véspera”.

Erza Weston Loomis Pound faleceu em Veneza, no dia 1.º de novembro de 1972, com 86 anos de idade.




REFERÊNCIA:
LAROUSSE, Petit. Dictionnaire Encyclopédique Pour Tours. 24ª tirage. Paris: L. Larousse, 1966.
WIKIPÉDIA. Ezra Pound. Wikipédia, disponível em . Acesso em: 31/07/2007.
POUND, Ezra. A Arte da poesia. Trad. Lima Dantas e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1976.
COWLEY, Malcolm. Escritores em ação. Trad. Brenno Silveira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.




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