- PEDRO LUSO DE CARVALHO
Este é o segundo texto que
escrevo sobre Ezra Pound, poeta, músico e crítico literário; no primeiro, fiz
um comentário sobre o seu livro A Arte da
Poesia, editado pela Cultrix em 1976. Neste artigo, abordarei alguns
aspectos da vida do poeta e farei a transcrição de um trecho da entrevista
publicada inicialmente pela The Paris
Review, em 1957, e depois editada em forma de livro (Writers at Work), em 1958 e 1963, pela The Vikink Press, Inc., Nova Iorque.
Alguns dados sobre a vida
de Ezra Pound: nasceu em 30 de outubro de 1885, em Hailey (Idaho), EUA. Foi
educado na Universidade de Pensilvânia e no Hamilton College. O seu primeiro
livro foi publicado em 1908, na cidade de Veneza, Itália. Dono de uma vasta
obra publicou cerca de 90 volumes de poesia, crítica e traduções de importantes
poetas.
Ezra Pound viveu muitos
anos na Europa, primeiramente em Londres, na década de 1920 em Paris, depois na
Itália, onde teria aderido ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, adesão
que foi por ele negada. O fato é que proferia palestra pelo rádio denunciando a
participação dos Aliados contra os países que integravam o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Preso pelos norte-americanos em
1945, foi levado para Pisa, onde ficava o seu Centro de Adestramento Militar.
Aí teve um tratamento extremamente rigoroso: foi jogado numa jaula improvisada
com tiras de metal, onde dormia sob uma lâmpada continuamente acesa, e sobre
cobertores colocados sobre o concreto.
Em decorrência desse
tratamento cruel, na terceira semana subsequente à sua prisão Pound sofreu um
colapso nervoso, que o deixou com amnésia parcial, além de outra sequela, a
claustrofobia. Mesmo assim foi mantido na prisão por seis meses, sem qualquer
contato com outras pessoas, o que agravou mais ainda sua saúde, já debilitada
pelos frequentes ataques de histeria e de terror. Daí foi levado para
Washington DC, onde ficou internado durante 13 anos, no Hospital Saint
Elizabeth, por ter sido considerado portador de demência. Em 1958, os Estados
Unidos retirou a acusação de traição. Nesse ano, retornou para a Itália, onde
passaria a viver com sua filha.
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A influência de Ezra
Pound e do seu projeto de renovação da linguagem poética fez-se sentir em
Joyce, Yeats, William Carlos Williams e particularmente em T. S. Eliot, que
submeteu o manuscrito da sua obra The
Waste Land à apreciação de Pound antes de publicá-lo em 1922. As correções
feitas por Pound mereceram-lhe a dedicatória de Eliot: "For Ezra Pound, il miglior fabbro"
(A Ezra Pound, o melhor artífice), como consta na Wikipédia. Segue, pois, um
trecho da entrevista que Erza Pound concedeu a Donald Hall, da The Paris Review:
Entrevistador – Um ponto
de ligação entre a literatura e a política, que o senhor estabelece em seus
escritos, interessa-me particularmente. Em A.
B. C. of Reading diz o senhor que os bons escritores são aqueles que mantêm
eficiente a linguagem, e que essa é a sua função. O senhor desassocia essa
função do partido político. Pode um homem pertencente ao partido errado usar
eficientemente a linguagem?
POUND – Pode. Aí é que
está toda a complicação! Uma arma é igualmente boa, não importa quem a usa.
Entrevistador – Pode um
instrumento ordeiro ser usado para criar desordem? Suponhamos que uma boa
linguagem seja usada para fomentar um mau governo? Acaso um mau governo não
torna má a linguagem?
POUND – Sim, mas a má
linguagem está destinada a fazer, ademais, um mau governo, enquanto a boa
linguagem não está destinada a fazer um mau governo. Isso, também, é puro
Confúcio: se as ordens não forem claras, não podem ser executadas. As leis de
Lloyd George eram tal mixórdia, que os advogados jamais sabiam o que
significavam. E Telleyrand proclamou que os políticos mudavam o sentido das
palavras entre uma e outra conferência. Os meios de comunicação se rompem, e é
disso que estamos sofrendo hoje em dia. Estamos suportando o esforço de se trabalhar
sobre o subconsciente sem que apelemos para a razão. Repetem, como música,
algumas vezes, uma denominação qualquer, e, depois, a música sem a denominação,
para que a música no-la dê. Penso no assalto. Sofremos do uso da linguagem a
ocultar o pensamento e a impedir todas as respostas diretas e vitais. Há o uso
da linguagem dialética, de propaganda, destinada simplesmente a ocultar e a
iludir.
A entrevista feita pela Paris Review com Ezra Pound é extensa,
apenas fizemos a transcrição de um fragmento dela, para que se possa ter uma
noção, por mínima que seja, do que Pound e sua obra representam para a poesia e
para a literatura universal.
Erza Pound de volta a
Itália viveu a maior parte do tempo no Tirol, com sua filha, genro e netos. Por
ocasião dessa entrevista, realizada em Roma, Pound encontrava-se no apartamento
de Ugo Dadone, seu velho amigo. Sobre esse momento, diz o entrevistador:
“Durante as horas da entrevista, que durou três dias, ele falou cansadamente, e
as perguntas, às vezes, o deixavam exausto. Pela manhã, quando o entrevistador
voltava, Mr. Pound mostrava-se ansioso por rever as falhas da véspera”.
Erza Weston Loomis Pound
faleceu em Veneza, no dia 1.º de novembro de 1972, com 86 anos de idade.
REFERÊNCIA:
LAROUSSE, Petit. Dictionnaire
Encyclopédique Pour Tours. 24ª tirage. Paris: L. Larousse, 1966.
WIKIPÉDIA. Ezra Pound.
Wikipédia, disponível em . Acesso em: 31/07/2007.
POUND, Ezra. A Arte da
poesia. Trad. Lima Dantas e José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1976.
COWLEY, Malcolm.
Escritores em ação. Trad. Brenno Silveira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1982.
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