8 de jul. de 2011

ERNEST HEMINGWAY - Romances e Contos



             
               por  Pedro Luso de Carvalho    

      
       Ernest Hemingway iniciou sua carreira como repórter do Kansas City Star, com a idade de 17 anos. Quando os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial, Hemingway juntou-se a uma unidade de ambulância voluntária no exército italiano, como motorista. Servindo na linha de frente, foi ferido gravemente, e, para recuperar-se dos ferimentos sofridos,permaneceu por considerável tempo em hospitais. Depois de seu retorno aos Estados Unidos, passou a trabalhar como repórter para jornais canadenses e americanos, um deles, o Toronto Star Weekly, na cobertura da guerra franco-turca, que o levou a retornar à Europa. Mais tarde fixou residência em Paris.

          No ano de 1923, Hemingway publicou o seu primeiro livro, The Stories and Ten Poems, numa edição de 300 exemplares; em 1924, saiu a coletânea In Our Time, com 18 contos curtos. Em 1925 publicou a sátira The Torrents of Spring. Em 1926 publicou o romance The Sun Also Rises (O sol também se levanta), em 1927, o seu segundo livro de contos, Nen Without Woman, destacando-se, entre eles, The Killers e The Undefeated, que foram considerados os melhores exemplos do conto moderno.

         O reconhecimento, pela crítica literária, chegou a Hemingway com a publicação do romance A Farewell to Arms (Adeus às armas), em 1929. Os seus contos foram reunidos no livro The First Forty-Nine, em 1938. Já o romance mais longo do escritor foi publicado em 1940, cuja história se passa na Guerra Civil espanhola, For Whom the Bell Tolls (Por quem os sinos dobram). Além dessas obras, publicou: Across the River and Into the Trees (1950), Old man and the Sea (O velho e o mar), em 1952 - que lhe deu o Prêmio Pulitzer, em 1953, e o Prêmio Nobel de 1954 -, Adventures of a Young Man (1962), Islands in the Stream (1970) e The Garden of Eden (O jardim do Éden), em 1986.

          A respeito de Old man and the Sea (O velho e o mar), assim se manifesta Mário Vargas Llosa, no seu livro A verdade das mentiras, depois de ter se referido à luta de um velho pescador, que depois de ficar oitenta e quatro dias sem pescar, trava uma luta titânica de dois dias e meio contra um peixe gigantesco, que, preso a seu pequeno bote, depois de um combate não menos heróico, vem a perdê-lo no dia seguinte para os vorazes tubarões do Caribe:

          “Essa é uma situação clássica nas obras de ficção de Hemingway: a aventura de um homem que enfrenta, num combate sem trégua, um adversário implacável, liça graças a qual, seja derrotado ou vitorioso, atinge um valor mais alto de orgulho e de dignidade, um maior coeficiente humano. Mas em nenhum de seus romances ou contos anteriores esse tema recorrente de sua obra se materializou com a perfeição que atingiu nesse relato, escrito em Cuba, em 1951, num estilo diáfano, com uma estrutura impecável e tanta riqueza de alusões e significados como o de seus melhores romances de fôlego” (...) Sem deixar de ser uma bela e comovedora obra de ficção, esse relato é também uma representação da condição humana, segundo a visão que dela postulava Hemingway”.
Gertrude Stein

          Em entrevista concedida a The Paris Review, Hemingway respondeu a muitas perguntas feitas pelo entrevistador, não a todas as perguntas, esquivando-se daquelas que achava que não eram inteligentes ou que eram importunas. Para os leitores de Hemingway, ou para os que simplesmente se interessam pelas opiniões sobre literatura, escolhemos partes dessa entrevista. O entrevistador pergunta a Hemingway se na década de vinte, quando o escritor vivia em Paris, ele contou com algum ‘sentimento de grupo’ em companhia de outros escritores e artistas; esta foi a resposta: “Não. Não havia sentimento de grupo. Tínhamos respeito uns pelos outros. Eu respeitava uma porção de pintores, alguns deles de minha própria idade, outros mais velhos: Gris, Picasso, Braque, Monet, que ainda viviam, bem como a uns poucos escritores, como, por exemplo, Joyce, Ezra e a boa Stein...”

          Sobre a pergunta feita, se é influenciado sobre o que está lendo, quando escreve, respondeu: “Não, desde que Joyce estava escrevendo Ulisses. A influência dele não foi direta. Mas, naquela época, quando as palavras que conhecíamos nos estavam interditas, e tínhamos que lutar para encontrar uma única palavra, a influência de sua obra foi o que mudou tudo, fazendo com que nos fosse possível romper com certas restrições”. A seguir respondeu à pergunta sobre as influências de pessoas contemporâneas suas, em sua obra, bem como qual foi a contribuição de Gertrude Stein, de Ezra Pound e de Max Perkins.

          Essa última parte da pergunta deixou Hemingway agastado, porque o entrevistador visava tocar num assunto que não lhe era agradável, qual seja, os comentários que intelectuais e críticos literários faziam na época, em Paris, de que, na ficção, foi orientado por Gertrude Stein e Ezra Pound, tanto que, irritado, disse ao entrevistador: “Acaso essa espécie de conversa o entedia? Esta bisbilhotice literária retrospectiva – este lavar de roupa suja depois de transcorridos trinta e cinco anos – causa-me náuseas. Seria diferente se se procurasse dizer toda a verdade. Isso teria algum valor”.

          Hemingway, no entanto, responde parte da pergunta: “Miss Stein escreveu com certa prolixidade e considerável inexatidão a respeito de sua influência sobre minha obra. Foi-lhe necessário fazer isso, depois que ela aprendeu a escrever diálogos, num livro intitulado The Sun Also Rises (O sol também se levanta). Eu gostava muita dela e pareceu-me esplêndido que houvesse aprendido a escrever conversação. Quanto a Ezra, era extremamente inteligente quanto aos assuntos que realmente sabia. Aqui é mais simples e melhor agradecer a Gertrude Stein por tudo que aprendi com ela, reafirmar minha lealdade a Ezra Pound como a um grande poeta e a um amigo leal, e dizer que me interessava tanto por Max Perkins, que jamais consegui aceitar o fato de que ele morreu”.

Ezra Pound
          Depois, o entrevistador quis saber quais os antecedentes literários, aqueles de quem mais aprendeu. Hemingway, então, passou a enumerá-los: Mark Twain, Flaubert, Stendhal, Bach, Turguieniev, Tolstoi, Dostoievski, Tchekhov, Andrew Marvell, John Donne, Maupassant, o bom Kipling, Thoreau, o Capitão Marryat, Shakespeare, Mozart, Quevedo, Dante, Virgílio, Tintoretto, Hieronymus Bosch, Brueguel, Patinir, San Juan de la Cruz, Góngora... Levaria um dia inteiro para lembrar-me de todos. Pareceria, ademais, que eu estaria procurando demonstrar uma erudição que não possuo, ao invés de estar apenas procurando lembrar todos aqueles que exerceram influência sobre minha vida e minha obra (...)”.

          É novamente Vargas Llosa quem fala a respeito do livro escrito por Hemingway, Paris é uma festa, na sua obra citada: “Livro patético – canto do cisne – pois foi o último livro que escreveu -, esconde sob a enganosa pátina das recordações de sua juventude, a confissão de uma derrota. Aquele que começou assim, na Paris dos loucos anos de 1920, tão talentoso e tão feliz, tão criador e tão vital, aquele que em poucos meses foi capaz de escrever uma obra prima – O sol nasce sempre – ao mesmo tempo que espremia todos os sucos suculentos da vida – pescando truta e vendo touros na Espanha, esquiando na Áustria, apostando nos cavalos em Saint-Cloud, bebendo os vinhos e licores de La Closerie – já está morto, é um fantasma que trata de se agarrar à vida mediante aquela prestidigitação antiqüíssima inventada pelos homens para, ilusoriamente, prevalecer contra a morte: a literatura”.
James Joyce

          Eric Nepomuceno, no seu livro Hemingway na Espanha, diz: “A última cidade que viu na vida foi Ketchum, em Idaho, um estado do norte dos Estados Unidos, entre Washington e Oregon à esquerda de Montana e Wyoming à direita, na fronteira com o Canadá (...) Seu último trabalho foram os textos que tentaram recuperar suas épocas de Paris, talvez a última cidade que ele conseguiu conservar intacta na memória, mesmo nos tempos em que a memória andava cada vez mais magra: dois meses antes de disparar a velha ‘Boss’ de dois canos na testa, ele ainda corrigia e armava as sobras da alegria e da felicidade”.

          Ernest Miller Hemingway, nasceu em Oak Park, Illinois, EUA, em 21 de Julho 1899, e morreu em Ketchum, Idaho, aos 2 de Julho 1961. Foi casado quatro vezes, e teve muitos casos amorosos. Era um dos seis filhos do médico Clarence Edmonds Hemingway (membro fervoroso da Primeira Igreja Congregacional) e de Grace Hall (cantora do coro da igreja). Ernest Hemingway pôs termo à sua vida da mesma forma que o fizera Clarence, seu pai: suicídio.




REFERÊNCIAS:
COWLEY, Malcolm. Escritores em ação. Tradução de Brenno Silveira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
NEPOMUCENO, Eric. Hemingway na Espanha. A outra pátria. Porto Alegre: L&PM Editores, 1991, p. 15.
VARGAS LLOSA, Mário. A verdade das mentiras. Tradução de Cordelia Magalhães. 2ª ed. São Paulo: Editora ARX, 2005, p. 246, 248.