- PEDRO LUSO DE CARVALHO
FERNANDO NAMORA (Fernando Gonçalves Namora) nasceu a 15 de abril de 1919, em Condeixa (Coimbra), Portugal, e faleceu em Lisboa no dia 31 de Janeiro de 1989. Iniciou o curso secundário em Coimbra, continuou em Lisboa e o concluiu na cidade Coimbra, onde se formou em Medicina, em 1942. Mais tarde, Mário Sacramento escreveria: “Fernando Namora foi, desde sempre, ‘médico-escritor’ e, com o dobrar dos anos, tornou-se ‘escritor-médico’.”
Em 1937 o grande escritor
português fez sua estreia nas letras com o livro de poemas Relevos e com
o romance Sete partidas do mundo. Em 1940 e 1941 publicou mais dois
livros de poesia, Mar de Sargaço e Terra. Em 1959 sua obra poética
foi reunida no livro As frias madrugadas. Em 1969 lançou Marketing,
outro livro de poesia.
O
seu primeiro grande romance foi Fogo na noite escura (1943). Depois foram
editadas, entre outras obras de Fernando Namora: Casa de Malta, novela,
1945; A noite e a madrugada,
romance, 1950; O trigo e o joio, romance, 1954; O homem disfarçado,
romance, 1957.
Fernando
Namora recebeu os seguintes prêmios: Prêmio Ricardo Malheiros da Academia das
Ciências de Lisboa, pelo romance Minas de São Francisco (1946); Prêmio
Vértice, pelas narrativas Retalhos da
vida de um médico (1ª série, em 1949); Prêmio José Lins do Rego, pelo
romance Domingo à tarde (1961).
O escritor tem seus
livros traduzidos para o castelhano, catalão, francês, inglês, alemão,
italiano, romeno, checo, russo, esperanto, sueco, holandês, búlgaro etc. Fogo
na noite escura é o oitavo livro de Fernando Namora editado no Brasil.
No
seu romance Domingo à tarde (Prêmio José Lins do Rego) Fernando Namora conta em
uma história densa; o tratamento que dá às personagens deixa transparecer uma
sensibilidade incomum; as abordagens que faz sobre a miséria humana, miséria
essa que o cerca no seu dia-a-dia no hospital, no qual exerce sua profissão de
médico.
Em Domingo à tarde o escritor demonstra saber lidar com os sentimentos
mais íntimos das personagens que povoam o hospital, ambiente impregnado de dor,
de angústia, de esperança e de desesperança. Namora demonstra ter um profundo
conhecimento da alma humana, e faz com que o leitor se torne cúmplice das suas
personagens.
Nesse romance (Domingo à tarde) o escritor desperta no leitor um forte sentimento
de compaixão e solidariedade pelos seus infortúnios, sentimentos esses que se
mesclam com um traço de culpa, como se quem o lê também seja responsável por
todo o caos social que passa a permear a sua narrativa.

Segue um trecho do romance
Domingo à tarde, de Fernando Namora (In Domingo à tarde/Fernando Namora.
Porto Alegre: Globo, 1963, p. 107):
DOMINGO À TARDE (fragmento)
(Fernando
Namora)
PEDIA-ME aqueles nadas
que reanimam uma vida. Enfim: a torpe ilusão de que poderia haver um erro ou
uma possibilidade. Mas nem só Clarisse necessitava dessa ilusão, embora fosse
eu, que também dela necessitava, a última pessoa que a doença pudesse burlar. Não
era apenas a magreza, o embaciado amarelento da face, os olhos que começavam a
parecer desmedidos, isolados numa paisagem desabitada: as próprias feições se
tinham alterado. A gente percebia-lhe, com uma ácida e progressiva nitidez, a
corrupção. No entanto, à medida que essa decadência se acentuava, menos eu a
queria admitir. Pela primeira vez, por assim dizer, nessa revolta das vísceras,
eu fazia a violenta descoberta da morte – através de uma pessoa viva. Durantes
as minhas longas vigílias de cigarros trespassava-me o eco de longínquas vozes.
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REFERÊNCIA:
NAMORA, Fernando. Fogo na noite escura. Prefácio de Nelly
Novaes Coelho. Notas bibliográficas de João Alves das Neves. São Paulo: Editor
Verbo, 1973.
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