5 de fev. de 2013

[Poesia] EDGAR ALLAN POE – Só



por Pedro Luso de Carvalho


EDGAR ALLAN POE (1809-1849) foi poeta, contista e ensaísta. William Carlos Williams dizia que Poe foi o primeiro autor verdadeiramente americano. Poe foi também o criador do romance policial. Seus compatriotas, os norte-americanos, somente vieram a reconhecer seus méritos literários dois anos antes de sua morte; antes disso os franceses já haviam se dado conta da importância de seu trabalho, divulgando-o na Europa. Poe era, sem dúvida, dotado de privilegiada inteligência e de inquestionável talento, que os canalizou para a poesia, para o conto e para o ensaio.  

O reconhecimento da obra magnífica de Edgar Allan Poe deveu-se a Charles Baudelaire e Mallarmé, que o tornaram conhecido na França e na Europa. A estes dois franceses somaram-se outros tantos nomes importantes da literatura e da crítica de outras nacionalidades, como, por exemplo, o argentino Jorge Luís Borges; todos eles contribuíram para a divulgação da poesia, da ficção e do ensaio de Poe.

Segue o poema , de Edgar Allan Poe, que integra o livro Poemas e Ensaios/Edgar Allan Poe. Tradução de Osmar Mendes e Milton Amado. Revisão e notas de Carmen vera Cirne Lima. 3ª ed. revista. São Paulo: Globo, 1999, p. 72:

    

     [ESPAÇO DA POESIA]

        
       Só
(Edgar Allan Poe)



Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-se, o meu mistério.
Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
 e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.



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