por Pedro Luso de Carvalho
No texto anterior, sobre
Jean-Paul Sartre, publicado neste espaço, escrevi: “Nas próximas publicações,
continuaremos falando da obra de ficção de Sartre, de suas peças para o Teatro
(que, segundo Maurois, foi onde encarnou suas ideias de maneira mais intensa),
e mais: da sua atuação na política, da influência que exerceu sobre a juventude
do pós-guerra, de sua recusa em receber o Premio
Nobel de Literatura etc.”
No entanto, senti que se
fazia necessário falar um pouco mais sobre a filosofia de Sartre. Portanto,
vamos mostrar nesta postagem a opinião de André Maurois, membro da Academia
Francesa, sobre a filosófica de Sartre. Também disse, no artigo anterior, que,
em 1928, Sartre termina o curso de Filosofia. Nesse ano, prestou o serviço
militar em Tours, na função de meteorologista. Retornou a Paris em 1930, de
onde sairia para a cidade portuária de Havre, para ensinar Filosofia numa
escola secundária, e depois em Laon, no Nordeste da França.
Numa de suas voltas a
Paris, encontrou-se, num café de Montparnasse, com seu ex-colega da Escola
Normal, Raymond Aron, que retornava de Berlim, onde fora estudar a doutrina
fenomenologista do filósofo Edmund Husserl (1859-1938). Com eles, encontrava-se
Simone de Beauvoir; em suas memórias, La
Force de L’Âge (Na Força da Idade),
a escritora relata esse encontro: “Está
vendo, meu amigo, afirmava Aron apontando seu copo; "se você é
femenologista, pode falar deste coquetel e estará falando de filosofia".
Sartre empalideceu de emoção, ou quase: era exatamente o que ambicionava havia
anos: falar das coisas tais como as tocava, e que isso fosse filosofia.

O jovem filósofo Sartre
sentia-se inclinado para uma nova filosofia, misto de existencialismo e
femenologia. Foi na Alemanha que Sartre exprimiu essa posição no seu romance
(não num texto filosófico) Mélancolie
(Melancolia), que mais tarde teria
outro título: A Náusea.
Os primeiros trabalhos
publicados de Sartre sobre Filosofia pura foram: L’Imagination (1939) e L’Imaginaire
(1940). Segundo Maurice Cranston: “Sartre deixou-se influenciar por Hussrl e
Heidegger, os quais, todavia, não os conheceu – e acrescenta - esses trabalhos
devem-se mais a Hussrl, o fenomenologista, do que a Heidegger, o
existencialista”.
Mas na obra filosófica
mais substancial de Sartre, L’Être et le
Néant (1943), conquanto subintitulada Essai
d’ontologie phénoménologique, existe mais do gênero de filosofia de
Heidegger; e o livro é geralmente visto como um tratado, na realidade como um
clássico do existencialismo. O próprio Sartre sempre gostou de ser conhecido
como existencialista.
Na próxima postagem
continuaremos com este texto sobre Sartre. Para acessar a quarta parte deste
trabalho, clicar em JEAN-PAUL SARTRE - Parte IV (final).
REFERÊNCIA:
MAUROIS, André, De Gide a
Sarte. Tradução de Maria Clara Mariani Lacerda e Fernando Py. Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira, 1966.
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