27 de dez. de 2012

JEAN-PAUL SARTRE - Parte III



por Pedro Luso de Carvalho


No texto anterior, sobre Jean-Paul Sartre, publicado neste espaço, escrevi: “Nas próximas publicações, continuaremos falando da obra de ficção de Sartre, de suas peças para o Teatro (que, segundo Maurois, foi onde encarnou suas ideias de maneira mais intensa), e mais: da sua atuação na política, da influência que exerceu sobre a juventude do pós-guerra, de sua recusa em receber o Premio Nobel de Literatura etc.”

No entanto, senti que se fazia necessário falar um pouco mais sobre a filosofia de Sartre. Portanto, vamos mostrar nesta postagem a opinião de André Maurois, membro da Academia Francesa, sobre a filosófica de Sartre. Também disse, no artigo anterior, que, em 1928, Sartre termina o curso de Filosofia. Nesse ano, prestou o serviço militar em Tours, na função de meteorologista. Retornou a Paris em 1930, de onde sairia para a cidade portuária de Havre, para ensinar Filosofia numa escola secundária, e depois em Laon, no Nordeste da França.

Numa de suas voltas a Paris, encontrou-se, num café de Montparnasse, com seu ex-colega da Escola Normal, Raymond Aron, que retornava de Berlim, onde fora estudar a doutrina fenomenologista do filósofo Edmund Husserl (1859-1938). Com eles, encontrava-se Simone de Beauvoir; em suas memórias, La Force de L’Âge (Na Força da Idade), a escritora relata esse encontro:  “Está vendo, meu amigo, afirmava Aron apontando seu copo; "se você é femenologista, pode falar deste coquetel e estará falando de filosofia". Sartre empalideceu de emoção, ou quase: era exatamente o que ambicionava havia anos: falar das coisas tais como as tocava, e que isso fosse filosofia.

Aron convenceu-o de que a femenologia atendia exatamente a suas preocupações: ultrapassar a oposição do idealismo e do realismo. A oposição era eliminada por Husserl, segundo essa assertiva: “Toda consciência é consciência de alguma coisa”. Para o filósofo alemão, ideias e coisas não podem ser separadas e constituem um único fenômeno. Depois de ter uma bolsa para estudar um ano em Berlim, em 1933, Sartre estudou, além das teorias de Hussrl, as teorias existencialistas de Heidegger, Karl Jaspers e Max Scheler (1874-1928), que aprofundavam as ideias de Kierkegaard sobre a angústia e o vazio da existência humana.

O jovem filósofo Sartre sentia-se inclinado para uma nova filosofia, misto de existencialismo e femenologia. Foi na Alemanha que Sartre exprimiu essa posição no seu romance (não num texto filosófico) Mélancolie (Melancolia), que mais tarde teria outro título: A Náusea.

Os primeiros trabalhos publicados de Sartre sobre Filosofia pura foram: L’Imagination (1939) e L’Imaginaire (1940). Segundo Maurice Cranston: “Sartre deixou-se influenciar por Hussrl e Heidegger, os quais, todavia, não os conheceu – e acrescenta - esses trabalhos devem-se mais a Hussrl, o fenomenologista, do que a Heidegger, o existencialista”.

Mas na obra filosófica mais substancial de Sartre, L’Être et le Néant (1943), conquanto subintitulada Essai d’ontologie phénoménologique, existe mais do gênero de filosofia de Heidegger; e o livro é geralmente visto como um tratado, na realidade como um clássico do existencialismo. O próprio Sartre sempre gostou de ser conhecido como existencialista.

Na próxima postagem continuaremos com este texto sobre Sartre. Para acessar a quarta parte deste trabalho, clicar em JEAN-PAUL SARTRE - Parte IV (final).




REFERÊNCIA:
MAUROIS, André, De Gide a Sarte. Tradução de Maria Clara Mariani Lacerda e Fernando Py. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1966.

 
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